Aprendo o quanto amadurecer pode nos proporcionar um enriquecimento de vida. Vida, assim, dividida, sempre nova, fértil, plena, encantadora, mas na qual não podemos apagar as cicatrizes da alma. As marcas das experiências ficam, nos constroem.
Antes eu julgava que o coração criava crostas e íamos nos tornando mais resistentes às emoções: mortes não nos causavam tanto assombro, decepções não nos levavam ao chão, as perplexidades diminuíam e a aventura de estar vivo parecia cada vez menos excitante.
É claro que amadurecer nos torna fortes e isto não tem nada com a quantidade de anos vividos. Amadurecer tem muitas faces. Amadurecemos muito com os sofrimentos, as perdas, a distância, a saudade, os diversos “pra sempre” e “nunca mais”, mas amadurecemos também com experiências únicas de encontros na vida.
Amadurecer não significa perder o encanto pelas coisas que vivenciamos, antes saboreá-los com menos pressa e mais ternura. Amadurecer não significa perder a vibração e a magia perante o novo, mas vibrarmos numa outra faixa, com mais responsabilidade pelos nossos sentimentos e pelos alheios.
Amadurecer é a incrível descoberta de um eu profundo e paradoxalmente jovem, novo, sedento de releituras. Isso porque o nosso olhar muda. Passamos a ver a vida sob uma ótica mais amena, menos rigorosa, mais terna e mais valorizadora dos pequenos encantos do cotidiano, antes quase imperceptíveis.
O amadurecimento pode nos vestir sob diferentes aspectos: filhos, lutos, rompimentos, crises e descobertas. Toda gama de relações e fatos que nos circundam acenam para essa evolução do eu que assim, se descobre, se desnuda, transmuta e cresce. Mas este crescer não tem sentido se é um crescer solitário e silente. Amadurecer/Crescer significa também ramificar e se abrir, expor ao mundo, ao vizinho, ao amigo, ao colega de trabalho a riqueza de nossas experiências. Isso é saber amadurecer junto, trocando, cedendo, doando parte de sua alma ao mundo, que como cada um de nós também amadurece. Mas o mundo é outra história e a história é cíclica... Porém, jamais igual.
Amadurecer não é virar Mamãe e Papai, Vovô e Vovó... Não é repetir atos, padrões, certezas e regras. Amadurecer é se descobrir: limites e potencialidades. É querer continuar bebendo no pote da vida, mas perder (ganhar) um pouco mais de tempo apreciando o sabor. Amadurecer é estar aberto sempre, é ter menos “pé atrás”, é aprender a depositar confiança nas pessoas, pois estas são seres humanos e não ciladas. É ir ao encontro do outro menos desarmado já que a vida urge e não viemos ao mundo apenas para guerrear, precisamos também de doçura e de paz.
Amadurecer significa ver encanto nas coisas mais ínfimas, mas que mais nos tocam a alma e nos transformam como seres humanos. Amadurecer é não só aprender com os erros a não repeti-los, mas, sobretudo perceber que errar é inerente à natureza humana e, assim, devemos ser mais flexíveis com os que erram conosco.
Amadurecer é muito mais que esta maravilhosa descoberta do “eu”... Amadurecer é a deliciosa descoberta do “outro”... E como um dia afirmou Drummond: “Aprendi novas formas de amar e tornei outras mais belas”.
Talvez amadurecer seja exatamente a afirmação da necessidade de descobrirmos, inventarmos, pela nossa sobrevivência, novas formas de Amar.
Alyne Costa
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